terça-feira, 12 de junho de 2012

Crítica de imprensa: «Eu Sou Deus»

«Quando alguém se julga acima da lei dos homens

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Giorgio Faleti é um mestre dos mistérios policiais. Italiano, leva-nos para Nova Iorque para seguirmos o rasto de um assassino que julga ser Deus.

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O que é que pode acontecer quando alguém julga que está acima das leis dos homens e que tem o poder para impor os seus desejos? Ou seja, que é Deus. Quando, ainda por cima, se cruza isso com o mundo do policial, o resultado pode ser muito estimulante. E é isso que acontece com "Eu Sou Deus", de Giorgio Faletti, mestre perfeito da arte de trocar as voltas ao leitor. O título, só por isso, confronta-nos com a dimensão do que temos para ler.
Afinal, pode alguém que acredita que é Deus ser culpado de alguma coisa? E pode, não sendo Deus, ser condenado por pecados que acredita que não cometeu? É para esse pântano moral, onde se afundam as melhores intenções, que os leitores são atirados. Giorgio Faletti apresenta-nos um labirinto policial perfeito para nos perdermos.
Nestas páginas mágicas, seguimos a investigação da detective Vivien Light que, após uma pessoa ser encontrada dentro das paredes de um prédio em demolição, entra em acção. Mas rapidamente outro caso, a explosão de um prédio em demolição, entra em acção. Mas rapidamente outro caso, a explosão de um prédio que causa inúmeros mortos, a chama. Nada parece unir os dois casos? Nada? Bem, aqui nada é o que parece. O atentado parece um acto terrorista que ninguém reivindica. Quem será o responsável? Junto de Vivien Light está Russel Wade, jornalista fracassado que fornece a pista inicial para a investigação.
No início julgamos conhecer o assassino. Mas há enigmas que se sucedem durante o livro e, por isso, as nossas certezas vão caindo, como se fossem castelos de cartas. Temos um caso policial pela frente. Mas o livro remete-nos sobretudo para o mundo do pecado e da possível redenção. Quando o misterioso criminoso se vira para o padre McKean e lhe diz: "Não estou à espera da absolvição, porque não preciso dela. E, de qualquer maneira, sei que não ma daria", todas as cartas surgem trocadas. O criminoso não sente estar a pecar. Mas sente que precisa de confessar o que faz. Quando diz: "Eu Sou Deus" ele quer dizer-nos que está na fronteira entre os vivos e os mortos. Mas o criminoso é uma personagem que só mais tarde conheceremos realmente.
Ele é também um símbolo na luta tenaz entre a luz e as trevas. A luz é representada pela detective Vivien Light. Como detective, ela quer ser a claridade que ilumina o mundo sombrio do terrorista assassin que ataca Nova Iorque. Mas também se quer iluminar interiormente. A sua busca por iluminar a escuridão é também uma forma de percebermos por que é que num mundo em que a culpa é sempre do outro às vezes não sabemos como reagir quando não sabemos quem culpar. "Eu Sou Deus" é também um livro sobre as feridas nunca cicatrizadas da guerra. São do Vietname, como poderiam ser do Iraque ou do Afeganistão. Ou dos Balcãs. "As guerras acabam. O ódio dura para sempre", diz-se a certo momento neste livro. Sendo um policial, este é também um livro sobre os danos colaterais da guerra. Giorgio Faletti quer falar-nos da estupidez das guerras. Que vai deixando pessoas marcadas a ferro em brasa e que transforma heróis em inimigos do seu próprio país. O Vietname é ainda hoje um símbolo para diferentes gerações. Por isso está aqui. É esse monstro sem rosto que carrega todas as culpas da sociedade que encontramos aqui na forma de um terrorista. Temos pistas sobre ele. E, por isso, no meio da escuridão tem de surgir Vivien Light, para incidir a luz sobre todas as coisas que nem outra personagem central no livro, um jornalista fracassado de nome Russel Wade, consegue explicar.»
Fernando Sobral, Jornal de Negócios

1 comentário:

Anónimo disse...

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