sexta-feira, 20 de julho de 2012

Crítica de Leitor: «Ninguém Quis Saber»

«Ninguém Quis Saber, da sueca Mari Jungstedt, é um excelente policial para ler nas férias, pois apesar de ter uma história bem montada e repleta de surpresas não é uma daquelas obras excessivamente complexas que exigem uma atenção redobrada e uma leitura em ambiente «controlado».


Um assassínio e um desaparecimento de duas pessoas que aparentemente nada teriam que as ligassem atormentam a pacata ilha de Gotland. Ainda para mais, sendo eles em parte auto-excluídos, os vínculos que mantêm com a sociedade são tão débeis que se torna difícil perceber onde se poderiam cruzar. A vítima mortal é o fotógrafo Henry Dahlström, que aparece morto depois de ter ganho uma fortuna nas corridas de cavalos. Dahlström é um alcoólico, que depois de ter sido um prometedor fotógrafo, passou a viver de biscates, essencialmente para alimentar o seu vício. Não é por isso de estranhar que o círculo de «amigos» seja no seu todo constituído por potenciais suspeitos, pois todos eles vivem num mundo de vícios e decadência.

Mais tarde desaparece Fanny, uma adolescente inevitavelmente complicada devido a viver com uma mãe completamente «destrambelhada» que a obriga a ser prematuramente adulta e madura. E isso tem o seu preço e deixa-a exposta aos «males» da sociedade.

Como em qualquer bom policial sueco, as chagas desta «perfeita» sociedade nórdica são implacavelmente expostas e denunciadas, pois além do alcoolismo, há a acrescentar os dramas familiares, as famílias disfuncionais, as vidas de fachada, a pedofilia, etc., seja em passagens directamente ligadas aos crimes, ou apenas ilustrativas do quadro geral.

Mari Jungstedt é mais poupada em palavras do que dita a tendência actual, o que é algo que até se saúda tendo em conta a proliferação de obras que se perdem na própria teia que tecem e acabam por dar mais importância aos floreados do que ao cerne da questão. Aqui não há gorduras a aparar, tudo é útil e essencial, mas não se pense por isso que é um thriller seco de carnes, está lá tudo o que é preciso. E o que é que é preciso? Um bom enredo, retorcido e surpreendente mas lógico, personagens bem construídas e humanamente viáveis, e uma boa contextualização social. Não traz nada de inovador ao género, mas também não estamos sempre à espera de novidades, certo? Sabe bem ler algo que siga (bem) as regras e não se perca em artificialidades e trivialidades. O que aqui se lê nestas 240 páginas é necessário e útil.

Por isso, aconselho a que sigam atentamente a investigação de Anders Knutas que será, ele próprio, surpreendido com o desenrolar dos acontecimentos. Tal como os leitores.»
Rui Azeredo, Porta-Livros
 
 

1 comentário:

Anónimo disse...

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