sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Crítica de Leitor: «A Ilha»

«Quando a filha a encarrega de todos os detalhes do seu casamento, Birdie sente-se honrada e lança-se, de corpo e alma, à tarefa. Mas eis que tudo muda quando, já noite avançada, Chess lhe telefona a anunciar que acabou tudo e que não pode casar com o noivo. Evidentemente perturbada, mas determinada a não dar explicações, Chess muda, por completo, a sua vida. Primeiro, cancela o casamento. Depois, desiste do emprego. As razões, só ela as sabe, mas também os seus planos são arruinados com a morte do seu ex-noivo num acidente. Então, a culpa sobrepõe-se a tudo e a proposta de Birdie de algumas semanas de retiro na casa de Tuckernuck passa a parecer uma forma de reconfortar Chess nas suas dificuldades. Juntam-se, assim, quatro mulheres - Birdie, a irmã e as duas filhas - na velha casa de Tuckernuck, em busca de alguns dias de tranquilidade. Mas todas encontrarão algo mais...

Apesar de ser apresentada como uma leitura de praia, esta não é uma história tão leve quanto seria de esperar. Primeiro, devido ao ritmo relativamente pausado a que os acontecimentos decorrem, principalmente na fase inicial, em que as personagens são ainda pouco familiares e parece haver uma extensa caracterização para assimilar acerca do passado e do estilo de vida das personagens, mas também pela considerável medida de drama e de mistério que caracteriza grande parte do enredo. A história de Chess é, desde logo, o grande mistério, e um dos segredos que mantêm a envolvência da leitura, quer por ser ela a razão essencial para o retiro em Tuckernuck, quer pelo contraste entre o seu silêncio obstinado e a expressividade da sua confissão. É também a mais rica em acontecimentos dramáticos - juntamente com a de India - o que evoca também uma certa empatia.
Mas nem só de Chess vive a história e, à medida que o enredo se expande, revelando mais sobre as outras personagens e criando situações capazes de mudar os rumos das suas vidas, também o ritmo da narrativa cresce de intensidade. As relações entre as quatro mulheres tornam-se mais claras, apesar das aparentes contradições, e é mais fácil compreender as suas escolhas e conflitos, resultado das características que têm em comum e das experiências e segredos que as separam. Há, também, um percurso de superação do passado - mais uma vez, principalmente para Chess e India, mas também para Birdie, em menor grau - que torna as personagens mais próximas. É, aliás, esta estranha forma de crescimento - de aceitação do sucedido e de (re)descoberta da felicidade possível - o aspecto mais cativante desta história.
Escrito de forma envolvente, com uma história que cresce aos poucos, mas que cativa pela forma como desenvolve o crescimento das suas personagens, este é, acima de tudo, um livro sobre as tragédias pessoais e o caminho para a recuperação, uma história das coisas simples (e de como elas por vezes se complicam), contada com um toque de mistério e alguns momentos particularmente tocantes. Uma boa história, portanto, e uma leitura agradável.»
As Leituras do Corvo